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quarta-feira, 18 de abril de 2012

Ou cede ou leva bala: lacunas de uma juventude infantil

 
Não têm escolha: ou cedem ou, de forma lenta e trágica, levam bala!
 
 
Ou cede ou leva bala. Com essa frase, Ruy Castro iniciou seu artigo no dia 22 de outubro de 2008 no jornal Folha de São Paulo. O texto, especificamente, abordava a questão do temperamento intolerante da juventude brasileira. Chamou-me a atenção, e resolvi ler até o final. Dado o impacto da reflexão, cheguei a levar o texto para uma leitura compartilhada com a minha turma do 2º semestre de Jornalismo na Universidade de Sorocaba.

Castro citou três casos, que estavam em ebulição fervorosa na mídia regional e nacional naquela época. O primeiro foi aquele que se tornou um mantra no país: caso Eloá. O relato informou sobre o seqüestro de mais de 100 horas que o jovem Lindemberg Farias, de 22 anos, empreendeu contra a ex-namorada, Eloá Cristina, de 15 anos em Santo André, no ABC paulista. Ao final do enredo, numa invasão confusa da polícia, matou a garota com um tiro na cabeça. O motivo da trama: Eloá não aceitava reatar o namoro.

Num domingo daquela mesma semana, aqui perto, em Sorocaba, mais um crime ao mesmo estilo com um jovem protagonizando uma tragédia. Daniel de Souza, 22, invadiu a casa da ex-namorada, Camilia Araújo, de 16 anos e a matou com um tiro na cabeça. O casal tinha um filho de um ano e meio que presenciou o assassinato brutal. O motivo foi o mesmo: recusa da moça em restabelecer o relacionamento.

Ainda nas citações de casos do artigo, o motorista Roberto Costa Júnior, jovem de 28 anos de idade, discutiu com seu patrão, o empresário Arthur Sendas, de 73. Por não ter sua reivindicação aceita (na época, a tese mais defendida era uma questão salarial), sacou uma pistola e com um tiro atingiu a cabeça de Sendas. O jovem assassino fugiu, e entregou-se à polícia no dia seguinte.

Para último exemplo, e chegando próximo a nossa contemporaneidade, há um relato chocante envolvendo outro jovem. Desta vez, um adolescente de 16 anos de idade. O caso aconteceu no dia 11 de abril num bairro nobre de Pirassununga, no interior de São Paulo. O adolescente matou a avó, de 65 anos de idade, com cinco facadas. O motivo da revolta do adolescente: a avó teria pedido para o garoto, que já havia repetido um ano na escola, desligar o vídeo-game, do qual o menino praticamente não se desligava.

O autor do artigo, a época, observou os acontecimentos com uma frase impactante: "É impressionante como, há tempos, no Brasil, os jovens não admitem ser contrariados. Quando querem alguma coisa, não enxergam o lado da outra parte e não lhe dão escolha: ou este cede ou leva bala, quase sempre na cabeça, para não haver dúvida"

No caso do adolescente de Pirassununga, a polícia encontrou jogos violentos ao lado do vídeo-game. No caso Eloá e no de Sorocaba, a passionalidade tomou proporção doentia e resultou em tragédia. No caso Sendas, a questão de maior ganho salarial gerou o homicídio. Quantos estopins...
 
 
Mas espera lá... Estopim para que mesmo?
 
Mas espera lá... Estopim para que mesmo? Para uma conversa de acertos? Para um diálogo de análise de possibilidades? Ou ainda, para uma reivindicação trabalhista ou judicial? Não! Estopins para assassinatos, crimes bárbaros praticados por jovens.

Quais os possíveis motivos? A facilidade do acesso as armas? Desarranjos psicológicos? Crise existencial? Com ou sem respostas, o fato é que os jovens estão cada vez mais intolerantes, acostumando-se a achar normal resolver tudo pela força: seja a bruta, a física ou ainda a emocional.

Com a estrutura familiar cada vez mais deteriorada, a transmissão de valores básicos para a vida em comunidade como o respeito, por exemplo, está alarmantemente desaparecendo. Os jovens, pressionados pelo sistema cada vez mais veloz, que exige cada vez mais resultados moldados no aparente sucesso imediato, querem a resolução de suas exigências em velocidade praticamente instantânea.

Nos casos extremos, atormentam seus alvos até levá-los a extenuação, objetivando alcançar seu objetivo. Nesse jogo, não existe a lógica da análise ou observação sobre se é certo ou correto aquela vontade. Falar na parada pare reflexão, então, é quase uma utopia...

Infelizmente, a conduta imatura, imediatista e, por que não dizer birrenta e infantilizada, tem gerado lacunas estruturais gravíssimas no cerne dos jovens brasileiros.

Em muitos casos, esse comportamento contribui para a construção de adultos rebeldes e cada vez mais mimados, desprendidos da realidade e sem noções mínimas de respeito ao próximo. Em diversos outros, o extremo chega ao colapso das pessoas ao redor não terem escolha: ou cedem ou, de forma lenta e trágica, levam bala!

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