Luiz Carlos fez exatamente essa subida, de madrugada, debaixo de chuva intensa e sozinho |
O
local, meus amigos, foi o km 550,9 da Rodovia Régis Bittencourt, a popular
BR-116. A estrada liga São Paulo a região Sul do nosso Brasil. O horário,
3h15min da madrugada do dia 25 para 26 de dezembro. Desconfio, inclusive, que o
Papai Noel ainda estava sobrevoando os céus da América Latina após a entrega
dos presentes de Natal...
Num
carro, veículo Prisma, prata, com placas da Capital Nacional do Paraquedismo,
meu amigo e companheiro de aventuras Luiz Carlos Paes Vieira e eu seguíamos
viagem para Florianópolis, em Santa Catarina. Chovia bastante. A pista, como de
costume por aquelas bandas, tinha bastante óleo. Naquele ponto, uma curva
grande, porém nem tão perigosa.
A pista, naquele ponto, em bom estado de conservação. A
gente havia acabado de fazer uma parada para tomar água e ir ao banheiro num
posto de Serviço ao Atendimento ao Usuário. Já estávamos na estrada há quase
cinco horas, tendo já vencido a sinuosa Serra de Juquiá. Havíamos saído ileso
de uma série de mais de 250 curvas há mais de 300 metros de altura.
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Saímos os 2 por essa janela após queda de 100 metros: MILAGRE? Muito mais do que isso! |
O
carro estava perfeito: pneus novíssimos, colocados na semana, devidamente
balanceados e alinhados. Até mesmo um novo aparelho de som e 4 caixas de auto
falante haviam sido instalados na antevéspera.
No
trecho, três pistas sem acostamento ou qualquer iluminação. Havíamos passado há
pouco pelo limite de município entre as cidades de Cajati e Barra do Turvo.
Nesse
ponto, sob essas condições, nessa exata hora, o carro perdeu o controle, rodou
e foi parar fora da pista. De repente, em lateral, adentrou num imenso matagal.
Por trás do verde, havia uma cilada: um barranco com mais de 180 metros de
profundidade em descida íngreme.
A
sensação do exato momento em que o carro rodou eu não sei bem descrever. O que sei
é que lembro exatamente da cena. A gente sente uma impotência, sabe? Vem na sua
cabeça uma sensação de que as coisas acontecem com você também,,,, E de que
aquele momento é um divisor de águas na sua vida!
Depois
disso, não dá tempo de pensar em mais nada. O carro desce, e capota, e bate nas
pedras. Acredito que tenha durado um minuto e meio, talvez doze capotagens. Eu
fiquei consciente até a terceira, que lembro bem. A única coisa que você pensa
na hora é a indagação de quando o carro vai parar. E aquele estampido ensurdecedor da lataria duelando com as pedras
do caminho.
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Na derrapagem tocava no rádio "NX ZERO - Isso não é normal" e lá embaixo, 12min dps, "RIHANNA- We Found Love" |
Na
hora que parou, ficamos uns dez minutos desacordados. Percebemos isso porque o
som continuou ligado, 5 faixas para frente da musica que estava tocando na hora
da derrapagem. Soltamos o cinto de segurança (que nos salvou, pq tinha muita
coisa jogada a até 100 metros do carro), daí eu fiquei embaixo procurando
celular e documentos e o Luiz foi pra pista pedir socorro.
O
que mais assustou foi o teto. Com a batida nas pedras, afundou exatamente entre
as duas cabeças. Depois, foi um dia de maratona: espera por guincho, ligação
pro seguro enviar táxi e ida de rotina no hospital de Cajati para tirar raio X.
Gente,
num resumo, foi um milagre: MAIS QUE ISSO, E MUITO MAIS QUE ISSO. Naquele dia,
até as 15 horas e num raio de 10 kms, ocorreram mais de dez capotamentos. Foram
registrados dois óbitos. Nosso caso foi o único em que saímos intactos, ilesos,
conversando e de certa forma até mesmo contentes pela lição que acabara de nos
ser aplicada e pela nova chance de seguirmos nessa vida.
Nos
passam pela cabeça hipóteses: talvez, anjos que ficaram de recuperação na
disciplina “Salvamentos em Situações Limite” estavam fazendo o Exame Final
junto com São Pedro. Para nossa sorte,
eles foram aprovados e passaram de ano.
Ainda:
estamos sentindo muita sonolência mesmo dois dias depois. Levantamos como
hipótese também que, durante esses 10 minutos desacordados, nosso Eu pode ter
feito uma viagem cósmica para algum lugar em que os seres humanos
desconhecem... E muito menos podem acessar!
Talvez
alguém lá de cima tenha conversado com a gente ao pé do nosso ouvido. Talvez
tenham decidido naquela exata hora que nós devíamos continuar a nossa vida aqui
na Terra. Talvez, a missão que nos aguarda seja muito grande, ou talvez não.
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Um vôo, para uma nova vida: hipóteses e especulação a parte, gratos pela lição dada por Deus! |
Tudo agora é especulação. Com certeza, Luiz e eu teremos
repertório para muito tempo fazer análises e chegar a conclusões. Por hora,
somos imensamente gratos por Deus nos ter ensinado uma lição e nos mantido
intactos para aplicá-la. Obrigado pelo carinho de todos. Continuamos inteiros
na luta aqui nesse imenso e lindo Planeta Terra.